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Trabalhadores protestam após anúncio de paralização das atividades da Ford de São Bernardo do Campo, no ABC |
O encerramento das atividades da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, anunciado pela montadora no último dia 19 de fevereiro o que causou grande alvoroço e preocupação com o impacto que a saída da empresa americana causará na economia daquela região, gerando protestos de trabalhadores e sindicatos, além da mobilização de governantes das esferas federal, estadual e municipal.
Com 52 anos de atividades a planta de SBC deve ser fechada até o fim de 2019 e com isso mais de 4.500 empregos diretos e indiretos serão extintos, além das mais de 24.000 vagas de fornecedores que serão atingidas. Nas contas do prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), deixarão de ser injetados anualmente na cidade cerca de R$ 1,4 bilhão. “Haverá uma desaceleração enorme da economia local”. (Fonte: VEJA).
A Ford vem perdendo espaço para concorrentes europeus e orientais que se instalam em praças com maiores estímulos e incentivos fiscais, como as do interior de São Paulo e Norte do País. Apenas na América do Sul a montadora registrou um prejuízo de US$ 678 milhões em 2018 e justifica que enxugar a operação é a única saída para tentar sair do vermelho.
PARCERIA GOVERNAMENTAL
Buscando reverter ou minimizar os impactos econômicos da decisão da Ford, o secretário da Fazenda de São Paulo e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PMDB) e o governador João Doria (PSDB), além de sindicatos da categoria, vêm realizando reuniões com representantes da montadora para propor saídas alternativas para a crise. Uma das ideias apresentadas é conceder incentivos fiscais para que as fábricas da montadora que ficam em território paulista continuem a operar.
O ÊXODO DE TAPIRAÍ
Mas o que isso tem a ver com Tapiraí? Talvez espelhe um processo que nosso Município vem passando nos últimos vinte e poucos anos. Desde os anos 90 a cidade vem encolhendo, trabalhadores e estudantes deixam Tapiraí em busca de melhores condições de vida e oportunidades nas cidades da região como Piedade, Pilar do Sul e Sorocaba que, ao contrário de nós, vivem um crescimento econômico visível.
Segundo o IBGE, Tapiraí conta uma população estimada em pouco mais de 7.000 habitantes (dados de 2018). Lembro que em 1994, quando cheguei aqui pela primeira vez, esse número ultrapassava os 11 mil. Mas o que provoca este êxodo? É a falta de incentivo e estímulos à produção, geração de renda e trabalho, e uma agenda de atividades culturais e de entretenimento de qualidade para nossos jovens.
Hoje a economia do Município e os pequenos comércios locais se mantêm graças à demanda de lavadores de legumes no distrito do Rio Turvo, uma tímida agricultura e às famílias dos mais de 150 trabalhadores da Supply Service, na Zona Industrial de Tapiraí que, há mais de 25 anos, é uma das maiores empregadoras do Município. O turismo, segmento em que Tapiraí se destaca por suas riquezas ambientais (e por ser o portal de entrada ao Vale do Ribeira), ainda é pouco explorado, tendo pouco impacto na economia de Tapiraí.
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A Supply Service, única indústria de grande porte em Tapiraí, é a maior empregadora da Município mantendo hoje mais de 150 funcionários díretos, sendo importante agente para a economia local |
Fazendo uma analise rápida, isso resulta da pouca vontade política de nossos governantes e representantes – um Executivo descomprometido com o desenvolvimento e prosperidade de seu povo e um Legislativo inoperante e inexpressivo em questões de maior relevância.
Em linhas gerais, enquanto observamos a mobilização de importantes agentes de estado como o governador e o secretário da Fazenda de São Paulo para manter as atividades da Ford em São Bernardo do Campo, que conta com 833.240 habitantes (IBGE 2018) e tem o 16.º maior PIB entre as cidades brasileiras, em Tapiraí os estímulos que atrairiam interesses de investidores e empresas a se manterem e instalarem no município são inexistentes e as condições urbanas e de serviços públicos prestados extremamente precárias.
Nossas estradas e meios de acesso são ruins, com muitos buracos e desbarrancamentos causados pela chuva e falta de manutenção, especialmente no trecho de serra de Tapiraí até a divisa com Juquiá. Também o tráfego de veículos articulados é proibido desde o quilômetro 155 da SP-79 (Tapiraí) até a BR 116 (Juquiá), o que limita o transporte de cargas e bens pela região, principal acesso entre o interior de São Paulo e o Vale do Ribeira, Litoral Sul de São Paulo e estados do Sul do País.
Além disso, o acesso à internet e sinal de celular são bastante ruins em toda a cidade e inexistentes nas áreas rurais e trechos de serra, o que em caso de acidentes (o que é comum) dificulta o pedido de socorro aos usuários do sistema.
Também o clima de Tapiraí, que nos é abençoado por sua abundância de água e diversidade natural, acaba sendo um empecilho para a manutenção e instalação de novas indústrias no Município. A chuva e garoa constante durante grande parte do ano, a atmosfera corrosiva e úmida e os fungos naturais da mata atlântica enferrujam e danificam máquinas e equipamentos, além dos raios que trazem prejuízos e danos elétricos, tanto públicos como de empresas da região,
Outra dificuldade encontrada por empresários de Tapiraí, seja nos segmentos da Indústria, Comércio ou Serviços, é a de se encontrar mão de obra qualificada, considerando que os mais jovens e capacitados acabam procurando trabalho e estudos em outras cidades.
Tudo isso impõe custos operacionais para a geração de trabalho e produção superiores às encontradas em outras cidades e regiões, o que enfraquece nossa economia e provoca o triste êxodo de Tapiraí.
Mas a solução a isso, também depende de cada um de nós, munícipes, pequenos ou grandes empresários que bravamente vivem, trabalham e empreendem em Tapiraí. Nossa união e relações sadias são essenciais para nosso crescimento, sendo importante a valorização do comércio local. E a observância e cobrança de ações dos nossos representantes eleitos, assim como a melhor escolha na hora do voto, são primordiais.
Esperamos assim que nosso prefeito, vice e vereadores eleitos para nos representar, cumpram seus deveres e cuidem de manter os que temos.
Alessandro Furlan
Jornalista