quinta-feira, 16 de junho de 2016

Legado das Águas inaugura viveiro de mudas da Mata Atlântica no Vale do Ribeira


Com modelo inédito de atuação, iniciativa pretende contribuir para a proteção da biodiversidade local e para repovoar os centros urbanos com Mata Atlântica

O Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do país, criada e mantida pela Votorantim S.A., inaugurou no dia 6 de junho seu viveiro de mudas. Em estudo para garantir a viabilidade há dois anos, o local reafirma o objetivo da Reserva de realizar um trabalho destinado ao desenvolvimento econômico local aliado à conservação da Mata Atlântica.

Da esquerda para a direita: Luiz Mauro Barbosa, Diretor
do Instituto de Botânica; Araldo Todesco, Prefeito de Tapiraí;
Paulo Almeida, Diretor da Fundação Florestal e David
Canassa, Gerente-geral de Sustentabilidade da Votorantim.
O Viveiro, que terá capacidade de produzir aproximadamente 200 mil mudas por ano, atuará em três frentes: “restauração florestal”, “aproveitamento econômico” e “espécies ornamentais”.

A produção de mudas nativas para a restauração florestal deverá atender, por exemplo, a demanda de empresas e produtores rurais que precisam recuperar áreas em suas propriedades, atendendo a exigências do Código Florestal.

Haverá, também, a produção de espécies nativas para projetos florestais com aproveitamento econômico, como produção de madeira e de espécies frutíferas, com alto potencial de levar benefícios financeiros ao produtor. “Como todo trabalho é desenvolvido dentro de uma Reserva privada, torna-se possível o uso da biodiversidade para ajudar na melhoria de vida das populações”, conta Ricardo Rodrigues, professor titular do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ - USP), parceiro do Legado com atuação direta na implementação o Viveiro.

Já a produção de espécies nativas ornamentais é uma iniciativa inédita no Brasil, com o objetivo de levar plantas da Mata Atlântica para os centros urbanos, inserindo-as no paisagismo das cidades. “O Brasil é o pais mais rico em natureza do mundo e importa espécies de plantas cultivadas nas cidades. Hoje, cerca de 90% da vegetação dos centros urbanos é exótica, ou seja, composta por flora originária de outros países” conta Ricardo Cardim, da Biodiversidade Nativa, também parceiro do Legado no Projeto.

Nesse sentido, o Viveiro do Legado das Águas produzirá mudas para arborização urbana e paisagismo, com foco em árvores de pequeno e médio porte e espécies que tenham flores ou folhagem ornamentais para uso em cidades.

Serão produzidas, também, espécies para jardins de modo geral, que contemplará bromélias, samambaias, arbustos, trepadeiras e forrações. “Dentro das 765 espécies de plantas já identificadas no Legado, existem várias com potencial ornamental que podem ser usadas com esse intuito e outras que ainda serão descobertas”, afirma André Nave, da Bioflora, empresa parceira do Legado, que atua na restauração de florestas nativas e trabalha diretamente no projeto do Viveiro.

Do Legado para os centros urbanos
Para tornar viável a inserção de espécies da Mata Atlântica nas cidades, a equipe responsável pela produção do Viveiro, em parceria com a Bioflora e Biodiversidade Nativa, desenvolve um trabalho de pesquisa aprofundado, estudando-as para deixá-las aptas a resistirem a mudança do ambiente natural para outras localidades, como ambiente o urbano. Quarenta espécies já foram reproduzidas com as sementes coletadas na Reserva que deram origem às, aproximadamente, 25 mil mudas presentes no Viveiro em sua inauguração.

“O grande desafio é conhecer quais são as espécies com potencial ornamental. Algumas nunca foram reproduzidas em viveiro. Realizamos a coleta da semente e o trabalho de ‘domesticação’ dessas espécies, aprendendo a melhor forma para sua reprodução, que pode ser por sementes ou por ramos, através de um processo chamado de estaquia. Ou seja, além da produção das mudas, realizamos uma pesquisa em cada espécie para entender sua melhor forma reprodutiva e desenvolvimento”, conta André Nave.

A comercialização das mudas terá, em um primeiro momento, o mercado de paisagismo sustentável do Vale do Ribeira e da Região Metropolitana de São Paulo como foco, ou seja, arquitetos, empresas de implantação de jardins e até mesmo pessoas físicas dessas regiões terão acesso às mudas. A ideia do paisagismo urbano sustentável é trabalhar com regiões onde há a presença da vegetação da Mata Atlântica, ou seja, onde o bioma existia antes de se tornar uma cidade.

“Hoje, devido a fatores culturais, quase todos os jardins e praças no Brasil possuem espécies exóticas, o que representa um dos principais fatores de degradação ambiental, pois muitas delas são invasoras, ou seja, acabam substituindo nossas espécies e prejudicando todos os processos ecológicos que envolvem, inclusive, a nossa fauna nativa. Estudos mostram que a presença de espécies invasoras é a segunda maior causa de extinção de espécies, perdendo apenas para o desmatamento, por isso a importância de desenvolver o conceito de paisagismo realizado com planta nativa”, explica Cardim.

Um Legado de orquídeas raras
Junto com o Viveiro de mudas, o Legado inaugurará seu Orquidário, criado com apoio do pesquisador Luciano Zandoná, Biólogo e curador do Orquidário Público de Guarulhos. Na Reserva, Zandoná vem realizando um projeto que consiste no resgate de orquídeas que caem naturalmente das árvores, e morreriam se permanecessem no chão da floresta. Essas orquídeas são tratadas nesse novo Orquidário e realocadas em árvores ao longo das trilhas. Em menos de um ano, mais de 100 espécies de orquídeas já foram identificadas - um recorde para a região. Entre essas 100, espécies minúsculas com flores de menos de dez milímetros até flores com cerca de 15 centímetros já foram catalogadas.

Além do ponto de vista ambiental, esse projeto tem, também, um papel importante referente à conscientização sobre a importância desse belo grupo de plantas, que geralmente têm flores exuberantes. “No futuro, o trabalho do Orquidário dará subsídios para a produção de orquídeas para o Viveiro, assim, teremos mais esse grupo de plantas na lista de mudas a serem comercializadas”, diz a gerente de sustentabilidade da Reserva, Frineia Rezende.

O Viveiro como iniciativa inovadora no
cenário de desenvolvimento territorial
A inauguração do Viveiro surge como mais uma ação para estimular o desenvolvimento territorial, à medida que pretende, no médio prazo, incentivar os produtores regionais a desenvolverem modelos de fonte de renda que aliem o ganho econômico com a conservação ambiental. “O Vale do Ribeira possui muitos pastos degradados. Substitui-los por mudas de plantas nativas com finalidade econômica pode aumentar a renda do produtor”, conta Ricardo Rodrigues.

André Nave explica que a implementação de um viveiro educativo com a função de capacitação das comunidades do entorno é um dos focos dessa importante iniciativa, já que o mercado de restauração florestal é promissor. “Tudo que estamos fazendo é pensando em envolver a comunidade. Queremos criar um grupo de produção de espécies nativas econômicas e ornamentais composto por produtores locais que serão capacitados para cultivar e comercializar as espécies nativas da Mata Atlântica”, conta.

Para o gerente geral de Sustentabilidade da Votorantim, David Canassa, o Viveiro é uma contribuição ambiental e social do Legado das Águas para o estado de São Paulo e, em especial, à Região do Vale do Ribeira. “É uma iniciativa estruturada, baseada em pesquisas científicas que nos respaldam para desenvolver o projeto ousado de, num futuro próximo, criar na região um polo de plantas ornamentais da Mata Atlântica para atender os centros urbanos”, finaliza David.

As estruturas de estufas, pátio e irrigação do Viveiro estão prontas. Além de uma área de preparação de substrato e replicagem de mudas e um jardim de teto verde (coberto por plantas). Aproximadamente duzentas espécies de plantas da Mata Atlântica catalogadas no Legado das Águas serão trabalhadas no local.

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